Revista W Run – Matéria: Mitos e Verdades sobre Epilepsia

Revista W Run – Matéria: Mitos e Verdades sobre Epilepsia

 Revista W Run: Matéria Mitos e Verdades sobre Epilepsia

Esta segunda-feira, 9 de setembro, é o Dia Nacional de Conscientização da Epilepsia, distúrbio muito comum entre homens e mulheres de todas as idade e classes sociais. Estima-se que cerca de 1,5 % da população tenha epilepsia, somando 3 milhões de brasileiros com o distúrbio. Apesar disso, muita gente continua desinformada e imersa em velhos conceitos e estigmas relacionados a essa síndrome.

Nada melhor do que aproveitar a data para eliminar todas as dúvidas e preconceitos sobre a doença. Confira abaixo a entrevista com o neurologista Leandro Teles, especializado pela USP e membro da Academia Brasileira de Neurologia:

1- O que é epilepsia?
Leandro Teles: Epilepsia é uma tendência a apresentar crises epiléticas. Não se trata de uma doença em si, mas, sim, de um conjunto amplo de patologias que podem tornar o indivíduo mais predisposto a, de tempos em tempos, apresentar um sintoma neurológico transitório, como uma movimentação involuntária de um membro, um formigamento, a perda transitória de contato com o meio ou até mesmo uma convulsão mais forte, com desmaio, salivação, contrações dos membros, etc. Durante alguns segundos ou minutos, uma parte do cérebro emite sinais incorretos, que podem ficar restritos a esse local ou espalhar-se. Se ficarem restritos, a crise será chamada parcial, se envolverem os dois hemisférios cerebrais, generalizada. As crises geralmente são autolimitadas, ou seja, passam sozinhas em alguns minutos. Para dizer que alguém tem epilepsia é fundamental que o quadro seja recorrente (mais de 2 vezes) e não provocado por motivos óbvios, como abstinência ao álcool, por exemplo.

2- O que causa epilepsia?
Leandro: Existem várias causas possíveis, que variam de acordo com a idade, o sexo, o tipo de crise apresentada e o histórico do paciente. Vemos desde causas genéticas até machucados no cérebro causados por AVC, tumores, traumas na hora do parto, abuso de álcool e drogas, cisticerco, traumatismo craniano, etc. É fundamental buscar sempre a causa para guiar melhor o tratamento.

3- Quais são os exames necessários para o diagnóstico?
Leandro: O diagnóstico surge após a entrevista com um neurologista, um exame neurológico minucioso e, eventualmente, alguns exames complementares. O quadro típico é de um sintoma neurológico que se apresenta de repente, de dia ou de noite, e que cessa espontaneamente em alguns minutos. Pode haver perda de consciência ou não, afetar o corpo todo ou apenas metade dele, e, inclusive, ser só um sintoma psíquico transitório, como um medo sem motivo, uma agonia ou uma sensação estranha no estômago. A dica é pensar em epilepsia sempre que o quadro neurológico for recorrente e estereotipado (sempre do mesmo jeito). Alguns exames que ajudam: ressonância de crânio e eletroencefalograma.

4- Quais os tratamentos possíveis?
Leandro: A grande maioria dos casos é tratada com medicamentos ou associações de medicamentos. O controle satisfatório é alcançado em mais de 70% dos casos. O prognóstico é, de modo geral, bom. Para casos mais complicados, são possíveis outras intervenções como cirurgia, implante de eletrodo vagal, dietas, etc. Cada caso é um caso peculiar, por isso, o tratamento deve ser individualizado. Existem inúmeros remédios possíveis, estando a grande maioria disponível na rede pública (SUS).

Mitos e verdades
Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), cerca de 5% da população terá ao menos uma crise epilética na vida. Sendo que, no Brasil, grande parte dos pacientes ainda não tem um controle adequado das crises, tanto pelo despreparo dos profissionais da área da saúde como por desinformação da população. Por isso, com a ajuda do neurocirurgião Paulo Porto de Melo, colaborador do Departamento de Neurocirurgia da Universidade de Saint Louis (Missouri- EUA), introdutor e pioneiro da neurocirurgia robótica no Brasil, esclarecemos o que é mito e o que é verdade a respeito do distúrbio, para acabar de vez com qualquer desconhecimento:

Durante uma crise devemos impedir que o paciente engula sua própria língua.
MITO. Esse é um erro comum e perigoso. A língua não enrola e o paciente não é capaz de engoli-la. Não se deve em hipótese alguma introduzir os dedos dentro da boca do paciente, pelo risco de lesões graves nos dedos, e tampouco introduzir objetos rígidos, pelo risco de lesões dentárias e gengivais graves. “O correto é virar o paciente de lado, protegê-lo, deixar que a saliva escorra e aguardar calmamente que a crise acabe, o que ocorre geralmente antes de 3 minutos”, esclarece Melo.

As crises podem ser bem controladas com medicamentos.
VERDADE. O uso regular de uma ou duas medicações é capaz de controlar adequadamente as crises em 70% dos casos. Muitos dessas medicações são distribuídas gratuitamente na rede pública.

Convulsão e ataque epiléptico são sinônimos.
MITO. A convulsão é apenas um tipo de ataque epilético. “A convulsão é aquele tipo mais intenso, no qual o paciente perde os sentidos e se debate, podendo morder a língua e urinar na roupa. No entanto, existem crises mais fracas, caracterizadas por breves desligamentos, formigamentos ou contrações restritas a alguns grupos musculares. Se ocorrerem de maneira recorrente, configuram epilepsia”, diz o neurocirurgião.

Epilepsia tem tratamento, mas não tem cura.
MITO. Existe a possibilidade de cura em alguns casos, por exemplo, se o paciente ficar muito tempo sem ter crises (mínimo de dois anos) e a medicação for descontinuada sem recorrências; com um procedimento cirúrgico que retira a causa das crises; pelo próprio amadurecimento do cérebro em alguns tipos de epilepsias infantis.

A saliva durante uma convulsão pode transmitir a doença.
MITO. A epilepsia não é uma doença contagiosa. Melo garante que o contato com a saliva do paciente de maneira alguma torna a outra pessoa epilética. “No entanto, a saliva pode transmitir (mesmo que raramente) algumas doenças infecciosas. Por isso, não é recomendado o contato desnecessário com a saliva de um desconhecido sem mecanismos de proteção”, afirma.

Devemos dar dose extra do remédio ao paciente quando ocorre uma crise.
MITO. As medicações devem ser mantidas nos horários acertados pelo médico. Não se deve dar remédio extra durante ou logo após a crise, nem passar água fria e muito menos álcool no rosto do paciente, pois são medidas absolutamente sem efeito.

Pacientes com epilepsia têm dificuldades mentais.
MITO. A maioria dos pacientes com epilepsia tem inteligência absolutamente normal, alguns até acima da média. Uma pequena parcela apresenta patologias que causam dificuldade intelectual associada às crises.

O paciente com epilepsia pode levar uma vida normal.
VERDADE. Pacientes bem controlados podem e devem trabalhar, praticar esportes, casar, ter filhos, etc. Até mesmo dirigir o paciente pode após 2 anos de controle e bom seguimento clínico.

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