O trigêmeo, responsável pela inervação da face, possui três ramos: oftálmico (V1), maxilar (V2) e mandibular (V3).
O típico ataque de neuralgia do trigêmeo é caracterizado por uma dor de fortíssima intensidade, usualmente no território de dois de seus ramos, de um lado da face. A dor pode ter diferentes características, tais como em choque, se assemelhando a uma facada ou pontada, aguda. Dura de poucos segundos a dois minutos, ocorrendo vários episódios em um mesmo dia.
A dor pode ser desencadeada por regiões específicas na face, chamadas de gatilho. O próprio paciente consegue identificar estas regiões, pois durante uma crise sempre desencadeia a dor ao tocar esses locais.
Devido à inervação dentária ser realizada por ramos do nervo trigêmeo, a dor pode afetar os dentes e infelizmente, em nosso meio, leva vários pacientes a procurar dentistas antes de procurar o médico.
Alguns pacientes chegam ao consultório após terem realizado várias extrações dentárias ou utilizado as “plaquinhas” para tratamento de distúrbio da articulação temporomandibular, sem sucesso.
A neuralgia do trigêmeo, apesar de ser a mais frequente dor facial, deve ser investigada através de ressonância magnética com estudo dirigido ao ângulo ponto-cerebelar.
Por vezes é possível identificar uma artéria comprimindo o nervo trigêmeo. Esta artéria costuma comprimir o nervo na área de transição do revestimento (mielina) central do sistema nervoso para o periférico, usualmente mais delgada e suscetível a irritações.
A pulsatilidade da artéria nesta região, em cima do nervo, pode desencadear a dor.
O tratamento da neuralgia trigeminal é usualmente clínico, utilizando drogas que aumentem a resistência desta área de transição a estímulos externos.
Se o tratamento clínico não tem sucesso, indica-se a cirurgia.
O tratamento cirúrgico é pensado sempre do menos para o mais invasivo. O tratamento cirúrgico minimamente invasivo da neuralgia trigeminal é realizado através de radiofrequência.
O procedimento é realizado sob regime de hospital/dia, ou seja, o paciente recebe alta no mesmo dia em que é internado.
Após ser admitido no centro cirúrgico e anestesiado (ou sedado, dependendo do paciente), é introduzida uma agulha fina através da face. Esta agulha progride, sob visão de aparelho de RX intraoperatório, até um pequeno orifício (forame) situado na base do crânio.
Uma vez dentro do forame, a agulha é avançada até chegar ao Gânglio de Gasser, de onde se originam todos os ramos do trigêmeo. É feita então uma mensuração elétrica, para verificar se a agulha se encontra no local correto.
Caso esteja posicionada idealmente, realiza-se a lesão por radiofrequência dos ramos selecionados.
A melhora da dor é usualmente imediata e o alívio tem duração variável, de poucos meses a vários anos, de acordo com a evolução de cada paciente. Em raros casos não há resposta da dor à radiofrequência.
O tratamento por radiofrequência substituiu o realizado por balão, antigamente usado por ser mais preciso e seguro para o paciente. As normas de conduta para tratamento de neuralgia trigeminal da Academia Americana de Neurologia e da Federação Europeia de Sociedades Neurológicas nem relacionam mais o balão como forma de tratamento.
Naqueles pacientes em que foi identificada uma compressão vascular no nervo e que não respondem ao tratamento minimamente invasivo, por radiofrequência, está indicada a cirurgia tradicional.
Nesta cirurgia, que também pode ser realizada de forma minimamente invasiva, com auxílio de endoscopia, o neurocirurgião faz um pequeno orifício logo abaixo da orelha, na região posterior do crânio.
Através deste orifício, chega até a região onde a compressão está situada e afasta a artéria do nervo, colocando entre eles um anteparo, que isolará o nervo das pulsações arteriais, fazendo cessar assim o estímulo doloroso.
Como saber a melhor forma de tratamento? Procure um neurocirurgião habituado a este tipo de doença e leve seus exames para análise.
Como filosofia própria de tratamento, busco sempre a menor invasão possível do paciente, partindo do menos invasivo (medicação) até o mais invasivo. Ainda assim, mesmo que indicado o procedimento invasivo, procuramos fazê-lo da forma minimamente invasiva, ou seja, através de endoscopia.
No tratamento cirúrgico endoscópico da neuralgia trigeminal, a internação hospitalar é breve, usualmente não superior a três dias, e o retorno às atividades habituais ocorre em cerca de uma semana.